quarta-feira, 1 de julho de 2015

Atualidades





11/12/2014 08h00 - Atualizado em 11/12/2014 08h00

Skate nas Olimpíadas? Elite se divide sobre  

 inclusão do esporte nos Jogos

Discussão renasce a cada edição dos Jogos que se aproxima. Boa parte dos profissionais vê entrada do skate como importante para levar esporte aos leigos



A cada edição dos Jogos Olímpicos que se aproxima renasce entre os fãs do skate a discussão sobre a inclusão da modalidade no torneio. Rúgbi, golfe, paracanoagem e paratriatlo estream no Rio de Janeiro, em 2016. Por isso, os entusiastas têm esperança para as Olimpíadas de Tóquio, em 2020, ou até mesmo para 2024, ainda sem sede definida. E, apesar de o Comitê Olímpico Internacional ainda não ter reconhecido a Federação Internacional do Skate (ISF), isso deve ocorrer em breve, e o sonho parece, pela primeira vez, mais palpável. A elite do skate tem opiniões distintas sobre o fato.

Muitos atletas têm receio em relação a como seriam pontuação, sistema de julgamento, formato do torneio, entre outras questões importantes. Os skatistas que competem no street, por exemplo, têm medo de que, desse modo, se perca a questão da "essência" do skate, que "não tem leis" e vem "da rua".  Por outro lado, alguns pensam que pode ser importante para levar o esporte aos leigos. Tetracampeão dos X Games (fora as três medalhas de prata e uma de bronze), vencedor de duas etapas da Street League Skateboarding, dono da própria marca, a Primitive, e de um contrato com a Nike que o deu uma famosa linha de tênis, o americano Paul Rodriguez Jr. se mostrou indiferente e até fez piada com relação ao exame antidoping.

- Eu estou no meio. Não me importo. Se for às Olimpíadas, acho que será muito bom para o skate, mas, se não for, o skate continuará sendo a melhor coisa do mundo, continuará crescendo. O skate não precisa das Olimpíadas, mas, se formos, será legal. Skatistas não usam medicamentos ou substâncias para melhorar sua performance, por exemplo, mas há muitos que seriam pegos no antidoping, algumas coisas apareceriam. Isso é algo do skate. Skatistas não usamESTEROIDES, mas usam a parte legal da coisa, a parte recreativa (risos) - brincou.
Leticia Bufoni, skatista brasileira tricampeã dos X Games (Foto: Reprodução / Instagram)Leticia Bufoni esteve na demonstração em Nanquim, nos Jogos da Juventude (Foto: Reprodução / Instagram)


Um dos principais motivos para crer que o skate será incluído nos Jogos de Tóquio, em 2020, ou em edições futuras, como 2024, é que o atual diretor esportivo da entidade máxima do esporte olímpico vê a ideia com bons olhos. Além de seu filho ser praticante da modalidade, Christophe Dubi quer atrair ao máximo o interesse dos jovens aos Jogos e incluir o skate parece um bom modo. Foi com esse pensamento que, em 2011, o COI incluiu modalidades como esqui e snowboard slopestyle no programa das Olimpíadas de Inverno de Sochi, disputadas em 2014. Nessa semana, durante um evento em Mônaco onde diversos novos itens foram aprovados para os torneios futuros, ficou definido que pode haver maior flexibilidade com relação à adição de eventos e modalidades nos programas, trazendo a oportunidade para esportes mais jovens, como o skate, a escalada e o patins inline. O fato foi comentado por Barry Maister, representante da Nova Zelândia no COI, ao jornal "The New Zealand Herald".
Vamos nos posicionar acerca desses esportes. Definitivamente, vamos ver mudanças no programa olímpico. 
Barry Maister,
do COI
 - Vamos nos posicionar acerca desses esportes. Definitivamente, vamos ver mudanças no programa olímpico. Haverá uma revisão após cada edição dos Jogos, e a oportunidade de incluir novas modalidades. 
A modalidade apareceu como demonstração pela primeira vez nos Jogos da Juventude, também nesse ano, em Nanquim, na China, com a participação de vários atletas, entre eles, os brasileiros Leticia Bufoni e Kelvin Hoefler, da categoria street, e Marcelo Bastos e Karen Jonz, do vertical. E foi um sucesso.

- Seria complicado, porque não sei como seria o julgamento. Fiz parte da apresentação na China, com duas performances por dia durante quase duas semanas. Conheci os diretores do COI e, pelo que ouvi, talvez o skate entre em 2020. Acho que seria legal, só que seria estranho competir com meus amigos, eu defendendo o Brasil, eles, Estados Unidos. Mas imagina estar nas Olimpíadas defendendo meu país? Seria enorme em termos de reconhecimento. Skate é um estilo de vida, na real, mas ser atleta olímpico não é para qualquer um. Tive um gostinho em Nanquim e, se um dia o skate entrar, ficarei feliz porque estava na China fazendo apresentação. Foi um convite de peso. Quem é leigo, me olhou como uma referência. Mesmo se eu não competir, terei isso na memória, estarei satisfeita por ter feito parte de todo esse começo - comentou Leticia, que é tricampeã dos X Games, além de número 1 entre as mulheres no street, e mora atualmente na Califórnia.
Rony Gomes quer a bonança no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação)Rony Gomes, do vertical, concorda com inclusão, mas com mesmos critérios (Foto: Divulgação)
Outro brasileiro bastante conhecido no mundo do skate é o paulista Rony Gomes. Sua opinião é parecida com a de Leticia. Em 2013, ele participou de todas as etapas dos X Games e foi declarado o melhor o mundo entre os homens em sua categoria, o vertical, mesma de Bob Burnquist. Para o esportista, é preciso manter o sistema de julgamentos de sua categoria, que avalia manobra a manobra. Além disso, ele crê que pode estar nos Jogos de Tóquio, em 2020, ou até mesmo em 2024.
- Pode dar uma visibilidade boa para o skate. Mas eu acho, que para ser legal, o skate tem que entrar nos Jogos do jeito que ele é hoje. Se tiver que mudar os critérios, vai acabar mudando o skate e o mercado do esporte. Os juízes tem que julgar manobra por manobra. Os skate vem sendo estudado há alguns anos, não chegamos à perfeição, mas acho que tem que seguir esses critérios. No vertical, o auge do skatista costuma ser dos 20 aos 30 anos, com casos de skatistas com mais de 30 continuarem andando muito. Se eu tiver oportunidade, quero estar lá sim e ser um dos representantes do Brasil, quem sabe até em mais de uma Olímpiada.
Mosaico Karen Jonz, Skatista (Foto: Editoria de arte)Karen Jonz na demonstração dos Jogos Olímpicos da Juventude (Foto: Editoria de arte)
A opinião de Karen Jonz, de 30 anos, é parecida com a dos compatriotas. Ela diz ter se impressionado com o que viu na China: o interesse do povo de Nanquim pelo skate, a curiosidade, principalmente, de ver meninas andando, e, claro, a organização, mesmo sendo apenas uma demonstração nos Jogos Olímpicos da Juventude. Primeira campeã mundial do Brasil no skate (em 2006, terminou o ranking da WCS no topo e ainda foi mais duas vezes campeã mundial, em 2008 e 2013, na categoria vertical), a skatista lembrou que as garotas já estão praticando com o pensamento de disputar as Olimpíadas.
- Eu já vejo muita movimentação das meninas. Sou a favor. Eu acho que vai ter que rolar uma parada como em outros esportes, a categoria olímpica e a "lifestyle", a raíz, que vai ser preservada. Acho que o esporte já está mudado. Quem é contra, é contra por causa disso, porque vai perder a essência, mas o que tinha que ser perdido já se perdeu. Acho que Olimpíadas é uma coisa muito grande e deve ser muito massa participar. Vou estar bem mais velha, mas, com certeza, quero participar. O principal é que vai ter uma exposição a qual nunca fomos submetidos. Tem campeonato que ninguém nem fica sabendo. É curioso e fico imaginando como vai ser - opinou.
A discussão sobre a inclusão do skate nos Jogos ganhou força quando a lenda Tony Hawk, dos Estados Unidos, disse ao apresentador Larry King em março deste ano que a inclusão das quatro rodinhas traria aos Jogos a juventude que eles precisam. 
Tony Hawk skate sandro dias (Foto: Divulgação/Pablo Vaz)Tony Hawk puxou a discussão
(Foto: Divulgação/Pablo Vaz)
- Se você levar em conta o sucesso do snowboard nos Jogos de Inverno e como isso trouxe uma certa juventude a mais às Olimpíadas em geral, eles não têm isso nos Jogos de Verão. Eles não têm nada que dê uma cara mais jovem. Para ser honesto, penso que eles precisam mais do skate do que o skate precisa deles. A popularidade do skate é sólida na maioria dos países. Não sei se é definitivo ou não, mas é muito provável que o skate esteja em Tóquio, em 2020 - comentou Hawk na época.
O lendário skatista faz parte da EUA Skateboarding, um braço nacional da ISF, encabeçado por Gary Ream, que é amigo de Dubi, do COI. Ele, inclusive, parece ainda mais esperançoso que Hawk em relação à inclusão da modalidade nos Jogos.

- As crianças não estão assistindo aos Jogos Olímpicos. Precisamos mudar isso - relatou ao "Los Angeles Times".

O próprio Thomas Bach já afirmou ao periódico "Los Angeles Times" que seria a favor de ajustes caso o COI, as federações internacionais e o comitê organizador concordassem, mesclando "tradição e progresso". Alguns profissionais de fora do Brasil são a favor da inclusão.
- Por que não? Nos Jogos Olímpicos? Ponham nas Olimpíadas. Seria demais. Eu defenderia os EUA - opinou Theotis Beasley, skatista descoberto pela lenda Andrew Reynolds e um dos astros do memorável vídeo "Baker 3", eleito o melhor de 2005 no tradicional prêmio "Transworld Skateboarding".
Theotis Beasley skate  (Foto: Reprodução / Facebook)Theotis Beasley se mostrou a favor
(Foto: Reprodução / Facebook)
- Seria bem louco, bem louco mesmo. Eu estaria dentro, eu acho. Depende das regras, né? Do que vier com estar nas Olimpíadas, mas eu acho que seria legal. Vai, Estados Unidos! Eu acho que o Brasil se daria muito bem no skate nos Jogos Olímpicos - completou o compatriota de Beasley, Ishod Wair, membro do time global de skatistas da marca americana Nike.

Mas, ao que parece, há quem seja radicalmente contrário à inclusão nos Jogos Olímpicos. Nascido na Bélgica, mas filho de pai marroquino, Youness Amrani, que foi eleito o melhor skatista europeu de 2014 pelo site especializado "Kingpin", é um deles.

- Não acho que tenha que ir para as Olimpíadas. Não tem nada a ver. Eu não acho que o skate seja um esporte. Eu ando de skate pelo skate, eu ando de skate para mim, até para impressionar minha mãe e meus irmãos - garantiu, refletindo a opinião de muitos praticantes, que consideram o skate apenas um "estilo de vida".
Youness Amrani faz performance na Cidade do México (Foto: Reprodução/Instagram)Youness Amrani é contra a inclusão nas Olimpíadas (Foto: Reprodução/Instagram)


Alguns outros profissionais do street, como o australiano Shane O'Neill e o noruguês Karsten Kepplan, veem dois lados na inclusão da modalidade.

- Dependendo de como isso for feito, pode ser interessante, mas eu não sei. Sinto que pode ser melhor só para a Mega Rampa ou para o vertical. Talvez seja curioso ver os países competindo um contra o outro. No skate, normalmente, você não vê isso. Cada um é cada um. Você pode ser da Austrália, do Brasil ou de Los Angeles, mas isso não importa. Pode ser divertido, mas não me interessa - relatou Shane.

- Eu não penso em competir nas Olimpíadas, mas eu não sei, talvez seja bom para o skate em si, terá mais atenção. É difícil dar uma opinião sobre isso. Pensando bem, o estilo de vida e a essência do skate nunca se perdem, mesmo em torneios. Sempre haverá isso nesse esporte, mas tem que se pensar bem - afirmou Karsten.
Encerramento Olimpiada de Atlanta Skate (Foto: Reprodução)Encerramento das Olimpíadas de Atlanta, em 1996, com pistas de skate (Foto: Reprodução)

Além da demonstração nos Jogos Olímpicos da Juventude, o skate já deu o ar de sua graça em outra edição das Olimpíadas. Mas foi apenas uma palhinha. Aconteceu durante o encerramento de Atlanta, nos Estados Unidos, em 1996. As quatro rodinhas se juntaram a bicicletas e patins inline e fizeram uma performance. Quatro rampas em forma de X, como alusão aos X Games, que estavam em seu segundo ano, além de uma pista de half pipe vertical, foram montadas rapidamente. Na realidade, tudo ficou a cargo de organizadores dos X Games, como forma de divulgação
Publicidade


Publicidade

Nenhum comentário:

Postar um comentário