quarta-feira, 23 de setembro de 2015

ARTES - Semana de arte Moderna

A Semana da Arte de 1922

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O Abopuru de Tarsila do Amaral
Entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922, o Teatro Municipal de São Paulo, verdadeiro monumento patriarcal erguido em pleno centro da capital do Estado para celebrar a arte tradicional, viu-se invadido por um grupo de jovens irreverentes da sociedade paulista daquela época, todos eles, visionários com veleidades artísticas e estéticas cuja intenção maior era abalar os convencionalismos, fossem eles quais fossem. Desde então, o ideário modernista, pois era assim que eles se autodesignavam, tomou corpo e mudou para sempre os padrões estéticos, literários e jornalísticos do Brasil.

O susto de Anita Malfatti
[...] seria uma semana de escândalos literários e artísticos, de meter os estribos na barriga da burguesiazinha paulista.
Di Cavalcanti
Numa entrevista a uma revista cultural de São Paulo, feita em 1939, a pintora Anita Malfatti narrou os antecedentes da sua polêmica exposição de 1917. O acontecimento para ela revelou-se quase tragédia, mas acredita-se que, pelo impacto que suscitou junto ao público e críticos, tornou-se chave para entender-se o que veio depois.

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Monteiro Lobato arrasou com a pintura de Anita Malfatti (retrato da boba)
Ela mesmo confessa que quando mostrou suas telas a umas colegas "acharam-nas feias, dantescas e todas ficaram tristes [...] alguns jornalistas pediram-me para ver os quadros tão mal feitos e todos acharam que devia fazer uma exposição". Ela, vinda da Europa, estava fortemente influenciada pelo expressionismo alemão, com aquela forte inclinação em exaltar o grotesco e o caricatural. O comportamento do público era muito estranho, em geral a reação da maioria era de espanto, de frustração, com aquela nova estética contrabandeada da vanguarda européia.

Lobato demolidor

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"Antropofagia" de Tarsila do Amaral
A resposta conservadora à ousadia de Anita Malfatti e à sua inclinação estética não demorou. Um pouco antes do Natal de 1917, Monteiro Lobato, num artigo publicado em O Estado de S.Paulo, desancou não só a exposição, como o futurismo, o cubismo, o impressionismo e todos os "ismos" da moda, dizendo-os produtos dos tempos decadentes, de cérebros deformados, afirmando que a única diferença das telas de Anita daquelas feitas nos manicômios, como terapia, é de a dos loucos era "arte sincera". Comentando o choque provocado pela crítica de Lobato, Mário de Andrade disse que Anita, depois que lhe mostraram o artigo de Lobato, ficou meio desaparecida uns quatro ou cinco anos. De certo modo, isso, o susto de Anita, seguida do seu encaramujamento, explica porque a pintora Tarsila do Amaral assumiu a função de criar os principais símbolos paradigmáticos do modernismo brasileiro, como o famoso "Abopuru".

Bater nos cilindros


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Cartaz anunciando a Semana
Quem a defendeu foi o jovem Oswald de Andrade, que mais tarde seria um dos mentores da vanguarda modernista, balançando sempre entre ser bufão ou anarquista, dizendo que a exposição pelo menos havia sacudido a crítica paulista da "sua tradicional lerdeza de comentários." Para ele era preciso apresentar "uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional". Oswald, por aqueles tempos, era militante futurista, resultado da sua viagem à Europa em 1912, quando voltou com uma penca de manifestos inspirados por Fillipo Marinetti. Mas ele e os outros intelectuais que o cercavam não gostavam de ser assim designados, preferindo o de modernistas. O nome futurista tinha ligações com as loucuras feitas pelos vanguardistas europeus, comportamento que os rapazes paulistas, filhos de gente fidalga, mais acanhados, não estavam preparados para assumir.

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