“Temos tolerância zero com corrupção”, diz ministra norueguesa
Com forte investimento na área de petróleo e gás no Brasil, os noruegueses já estão precavidos contra escândalos de corrupção na área. É o que garante a ministra de Comércio e Indústria da Noruega, Monica Mæland, em entrevista exclusiva ao Fato Online. Segundo a ministra, que acompanhou a visita do príncipe herdeiro da Noruega, Haakon, ao Brasil, o país controla 1 a cada 4 navios-sonda de exploração de petróleo no país e pretende expandir a sua presença. Algumas questões, no entanto, dificultam essa expansão. Para ela, a principal é a falta de previsibilidade das regras brasileiras nessa área.
Ao lado de empresários de seu país, ela fez um pronunciamento na sede da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e ouviu os seus conterrâneos avaliarem quais os principais entraves para uma maior participação do país nórdico na indústria brasileira de petróleo. Entre os principais pontos mencionados estão justamente a falta de previsibilidade, a regra de conteúdo nacional que, segundo os presentes, burocratiza os investimentos, a legislação trabalhista e a obrigatoriedade de a Petrobras arcar com 30% dos investimentos. Foram feitas também críticas ao excesso de impostos.
Mas Monica preferiu não se estender nas críticas e mirar no que ela chamou de “construção bilateral” de uma relação duradoura entre o seu país, no extremo norte do planeta, com o Brasil, que chega até o extremo sul. Confira os principais trechos da entrevista que tratou da área de petróleo e escândalos de corrupção.
Fato Online – Como a mudança nas regras de conteúdo nacional na exploração de petróleo poderia aumentar a presença norueguesa nessa área no Brasil?
Monica Mæland – Não temos nada contra o conteúdo local em si. Mas nós precisamos de condições previsíveis para acordos em que possamos confiar. Essa é a preocupação nos dias de hoje. É o que estamos tentando agora, já que a nossa indústria marítima é muito global e inovadora. Quer um exemplo? Um a cada quatro navios operando no Brasil [na área de petróleo] é norueguês. Para ambas as partes [Brasil e Noruega] é importante ter condições em que os dois possam confiar. Isso torna a relação mais previsível.
É por isso que estamos tentando negociar um acordo bilateral marítimo [entre Brasil e Noruega], que ainda não conseguimos concluir. O que obtivemos hoje [um memorando de entendimento para facilitar o diálogo na área de transporte marítimo] foi um primeiro passo porque nos dá uma boa oportunidade para negociar entre os dois governos a situação em detalhes e como podemos evoluir nesse sentido.
Fato Online – O Brasil tem acordo com o Mercosul, que limita bastante as possibilidades de realizar novos acordos. Isso é um problema para essa negociação?
Monica – Essa é uma outra questão. Queremos o Mercosul para negociar um acordo de livre comércio entre o Mercosul e outros países. Estamos falando sobre isso e temos um comitê para essa discussão. Agora o nosso foco é outro, o acordo entre Brasil e Noruega.
Fato Online – Recentemente, no Brasil, tivemos um grande caso de corrupção na área de exploração de petróleo, investigado na operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Esse contexto assusta a Noruega e as empresas norueguesas?
Monica – Nós avisamos às companhias norueguesas que investem no exterior que eles têm que ter em mente que temos tolerância zero contra corrupção, seja ela em casa [na Noruega] ou em outros países. Se eles correrem o risco, eles têm que fazer isso dispostos a lidar com a situação que enfrentarão depois. Nós não aceitamos essas ações de corrupção sob nenhuma circunstância, nunca.
Fato Online – Há algum programa para punir em casa empresas que eventualmente se envolvam em corrupção em outros países?
Monica – Sim. Nós temos tolerância zero com isso. Quando algo do gênero aparece [escândalos de corrupção], nós processamos os envolvidos aqui, seja a corrupção feita na Noruega ou em outros países. Ou seja, punimos aqui também. O trabalho contra corrupção é muito importante para nós.
Pedro Lucas
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