O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aproveitou nesta terça-feira (10) almoço com líderes de alguns partidos de oposição e governistas para mostrar dois passaportes com 37 carimbos de entrada em países na África. Os carimbos serviriam para provar que o parlamentar manteve negócios no continente africano.
Investigado na Operação Lava Jato, Cunha é acusado de manter contas bancárias secretas no exterior. Em entrevista ao G1 e à TV Globo (veja vídeo ao final desta reportagem), o peemedebista disse que obteve os recursos com a venda, na década de 1980, de produtos alimentares, como carne, ao antigo Zaire (atual República do Congo).
O próprio Cunha informou ter mostrado aos parlamentares os passaportes, o que foi confirmado pelo líder do PSD, deputado Rogério Rosso (DF), e do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (SP), que participaram do encontro.
“Conversei com alguns deles. Isso faz parte de conversas privadas que tenho com eles. Isso foi apenas para mostrar a eles que não existe história, existem fatos. Apenas dei uma simples prova do conteúdo do que a gente estava divulgando”, afirmou Cunha. O presidente da Câmara não quis, porém, apresentar os documentos à imprensa. “Vou deixar vocês curiosos”, disse.
O argumento de Cunha faz parte da defesa que ele apresentará para justificar recursos no exterior. Ele nega ser dono das contas bancárias, mas diz ter o usufruto de ativos administrados por trustes constituídos na Suíça e não declarados à Receita Federal e ao Banco Central.
Geralmente, Cunha reúne toda terça-feira líderes mais próximos para um almoço na sua residência oficial para discutir a pauta de votações da Câmara. No encontro desta terça, ele usou parte do tempo para comentar a sua defesa e voltar a negar que tenha contas no exterior.
“Ele fez questão de mostrar dois passaportes que atestam uma grande quantidade de viagens para países da África”, disse Rosso. Ele disse não saber precisar quantos carimbos havia nos documentos, mas afirmou que eram “algumas dezenas”. “Realmente, são 35, 40, 50 entradas nesses países da África”, completou.
Aliado de Cunha, o deputado Paulo Pereira da Silva, conhecido como Paulinho da Força, também confirmou que Cunha apresentou 37 carimbos que mostram viagens para o Zaire, mas disse que ele não apresentou documentos que demonstrem o dinheiro obtido nessas transações comerciais.
Apesar disso, Paulinho afirmou que os carimbos e a existência dos trustes são provas "suficientes" para a absolvição no processo do Conselho de Ética. "Tem mais de 30 vezes que ele foi para o Zaire. Para mim, é prova suficiente de que ele fazia esses negócios que ele falou. Acho que são provas suficientes que podem garantir o mandato dele", afirmou.
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