terça-feira, 28 de abril de 2015

Seca histórica compromete abastecimento de água e luz no Brasil

O maior reservatório de água potável de São Paulo está a 5% da sua capacidade, e poderá atingir o zero em meados de Abril. O Rio de Janeiro não está melhor e não há soluções rápidas à vista.
O Brasil está a viver uma situação de seca sem precedentes, com a escassez de água a deixar os sistemas de abastecimento das maiores cidades do país à beira do colapso, e a fazer disparar o risco de apagões e cortes de energia, uma vez que cerca de 80% da produção brasileira é hidroelétrica.
A seca já atinge cinco das dez maiores regiões metropolitanas brasileiras – Belo Horizonte, Campinas, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo –, onde vivem cerca de 48 milhões de pessoas, isto é, cerca de um quarto da população do país. Mas segundo os especialistas, o impacto da crise hídrica poderá ser sentido por quase 80 milhões de brasileiros.
O Governo de Dilma Rousseff qualificou a crise da água como “sensível”, reconhecendo que a situação é “muito preocupante”. Conforme assinalou a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, “nunca se viu uma seca tão grande nos últimos 84 anos”: o Governo federal está disponível para apoiar “as medidas emergenciais e de carácter estruturante”, dos estados e dos municípios, que são os detentores da responsabilidade pelo abastecimento das populações, garantiu a governante.
O caso de São Paulo – uma metrópole de 19 milhões de habitantes – é o mais extremo. Há meses que o abastecimento da Grande São Paulo está a ser feito com recurso à exploração do chamado “volume morto” dos reservatórios do sistema Cantareira, isto é, com a água que fica no nível abaixo da estrutura de captação das represas e cuja qualidade não pode ser garantida.
A escassez de água obrigou ao racionamento do abastecimento nas torneiras em vários pontos da região metropolitana e da própria cidade de São Paulo. A população tem reagido entre o pânico e a resignação, passando pela revolta e fúria: por exemplo, depois de 20 dias sem água, um protesto na localidade de Itu, a 100 km de São Paulo, terminou em violência, com os habitantes a pegar fogo a autocarros e a sequestrarem camiões-cisterna.
Apesar de ter desvalorizado os alertas sobre a gravidade da situação em Outubro, durante a campanha eleitoral, garantindo que o sistema estava preparado, o governador Geraldo Alckmin – confortavelmente reeleito para o cargo –, já admite a hipótese de impor um “rodízio de água”, num formato drástico de cinco dias sem água para dois dias com abastecimento, que poderá durar até Abril.
A última vez que esse sistema foi aplicado foi há 15 anos, em resposta ao esvaziamento do sistema Guarapiranga, e afetou a zona Sul e uma parte da zona Oeste da capital, que ficavam sem água por um período de 24 horas a cada três dias. Mas até essa medida pode ser insuficiente. Esta sexta-feira, o maior reservatório de água potável de São Paulo tinha apenas 5% da sua capacidade, e de acordo com as projeções, poderá atingir o zero em meados de Abril.
Em busca de alternativas
O governo paulista convocou as empresas especializadas em matérias hídricas na semana que passou para apresentarem propostas “criativas” de curto prazo para atenuar a crise, nomeadamente para o tratamento da água da Billings, a maior reserva de São Paulo, mas cuja exploração está comprometida. A água é imprópria para consumo humano não só por causa do nível de poluição, como também pela engenharia complexa que envolve a sua distribuição pela área metropolitana. Como escreveu o jornal Folha de São Paulo, o governador garantiu que “não faltará dinheiro para projetos com soluções imediatas”.
O uso do volume morto também já se tornou uma realidade no Rio de Janeiro: como escrevia a agência Brasil na semana passada, “quem depende do reservatório do Paraibuna, 90% formado por moradores do Rio, também beberá águas nunca antes exploradas pelo abastecimento”. O jornal Globo escreveu que o reservatório, criado em 1978, contém atualmente dois mil milhões de metros cúbicos de água, que é usada tanto para o consumo como para a produção hidroelétrica – esse valor garante, no pior dos cenários, que os cariocas têm água até Julho.
Em Minas Gerais, a Companhia de Abastecimento Copasa já veio alertar para o risco do corte do abastecimento se não forem adaptadas medidas urgentes para uma significativa redução do consumo, uma vez que a capacidade dos reservatórios já baixou para o nível crítico. O governador Fernando Pimentel – um dos vários dirigentes estaduais que na última quarta-feira estiveram em Brasília para discutir a crise com o Governo –, estimou que, “se não chover, se o consumo não cair e a vazão não aumentar, e se não conseguirmos mais captação, em três meses vamos ter que racionar severamente”.

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